Secundino
Secundino Segundo era o segundo filho de Segundo Ferreira. Filho do segundo marido da sua mãe, nasceu no segundo segundo da segunda hora, ao segundo dia do segundo mês do segundo ano do século passado, a uma segunda-feira. Nascido no segundo milénio, decidiu, teimoso, que viveria para ver o terceiro. Toda a sua vida foi segundo. Na escola ficava sempre na segunda carteira da segunda fila. Praticante de atletismo, chegava sempre em segundo, um segundo depois do primeiro, ao ponto de um dia ter feito uma corrida sozinho e ter chegado em segundo lugar.
Na escola, não passou do segundo ano do ensino secundário. Tirou a carta à segunda. Casou por procuração. Nunca viu a mulher pelo que voltou a casar, de modo que, na verdade, a sua primeira mulher foi a segunda. Foi pai de gémeos e nunca soube qual nasceu primeiro. Tratava o primeiro por segundo e o segundo por segundo. Na música era fã irredutível de Segundo Gallarza. Tinha a mania de ser pontual mas chegava sempre um segundo atrasado. Viveu cento e dois anos farto de ser segundo em tudo. No seu testamento exigiu que, quando morresse, o cortassem em postas e o distribuíssem pela família e pelos amigos para que cada um ficasse com uma fracção de Segundo.
Um dia decidiu morrer. Marcou a hora, ao segundo. Pegou na caçadeira de dois canos e disparou. O primeiro tiro atingiu-o de raspão. Morreu com o segundo, um segundo depois da hora prevista...
Anne T. Culture, in “Segundo rezam as crónicas...”, Edições Segundo Milénio, Segunda edição.
Na escola, não passou do segundo ano do ensino secundário. Tirou a carta à segunda. Casou por procuração. Nunca viu a mulher pelo que voltou a casar, de modo que, na verdade, a sua primeira mulher foi a segunda. Foi pai de gémeos e nunca soube qual nasceu primeiro. Tratava o primeiro por segundo e o segundo por segundo. Na música era fã irredutível de Segundo Gallarza. Tinha a mania de ser pontual mas chegava sempre um segundo atrasado. Viveu cento e dois anos farto de ser segundo em tudo. No seu testamento exigiu que, quando morresse, o cortassem em postas e o distribuíssem pela família e pelos amigos para que cada um ficasse com uma fracção de Segundo.
Um dia decidiu morrer. Marcou a hora, ao segundo. Pegou na caçadeira de dois canos e disparou. O primeiro tiro atingiu-o de raspão. Morreu com o segundo, um segundo depois da hora prevista...
Anne T. Culture, in “Segundo rezam as crónicas...”, Edições Segundo Milénio, Segunda edição.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home