domingo, janeiro 30, 2005

A história de & - parte 3

Herculano estacou subitamente maravilhado pela expressiva melodia que o cego, num canto do átrio da estação, arrancava de um velho violino, olhos cerrados, o rosto a roçar o seu corpo de madeira como se o beijasse...
(...)
Herculano havia sido, há mais de 20 anos como agora o era, um belo, imponente e poderoso Consórcio. Num daqueles dias conhecera Laurinda, uma pequena Sociedade por quotas. Apaixonaram-se. Amaram-se intensamente, crentes, cada um deles, ser um o destino do outro.
Herculano apresentou-a à família, aos amigos, à sociedade onde Laurinda sempre foi mal recebida.
Alvo de críticas e ferozes reprovações, Herculano não resistiu à pressão e abandonou Laurinda.
Grávida de Herculano e de alma falida, Laurinda refugiou-se num velho quiosque de venda de jornais, no vão da escada de um prédio decrépito. Aí viveu até ao nascimento de &, que logo abandonou à sua sorte naquele frio dia de Dezembro.
De Laurinda nada mais se soube até aos dias de hoje.
& foi recolhido pela velha porteira do prédio que o encontrou a chorar entre jornais velhos e o criou como se seu filho fosse...